terça-feira, 21 de maio de 2013

Era uma vez...

Um lugar majestoso. Monumental. Cada centímetro seu inspirava grandiosidade. Proporcional ao seu tamanho, era sua mágica. Encantava. Fazia os pêlos do corpo arrepiarem.

Eu me sentia pequenininha ao pisar lá. Era como se ninguém pudesse me notar, me ouvir ou ver. Independente desta sensação, eu gritava mesmo assim. Todos ao redor também gritavam, algo diferente a cada momento, mas sempre num coro uníssono, apaixonado, vibrante e empolgado. Será que eles se sentiam da mesma forma que eu? Insignificante, mas essencial ao mesmo tempo?

Sim, eu pertencia àquele lugar. Mesmo que ninguém soubesse disso, eu sabia. Sentia as pernas tremendo na subida da rampa, a caminhada até a entrada do setor amarelo (ou verde) era sempre embalada por algum surdo ou bumbo... E meu coração dançava no ritmo da melodia das palmas sincronizadas.

Eu via paixão nos olhos de cada um daqueles indivíduos que, como eu, dedicavam algumas horas de seus dias (especialmente quartas e domingos) para aquele ritual. Quando se aproximava a hora do espetáculo começar, aquele mar de gente ia se espalhando, colorindo os espaços já coloridos daquele palco. O verde, amarelo, branco e o azul, as cores no nosso Brasil, davam lugar ao verde, branco e  grená. Mas sem preconceito, em outros momentos, dava lugar também ao preto e vermelho, ao branco e preto...

Ele abraçava todas as cores. Todas as gentes. Sem distinção.

O "contrato" que selamos desde 1999 foi cumprido, de maneira fiel, até o seu anunciado fim chegar. Me abraçou e me acolheu, por todos esses anos, com um carinho indescritível. Mesmo sendo pequeninha e "insignificante", eu fazia parte daquela multidão que o adentrava, que o adotava como casa por alguns instantes e que ali sorria, chorava e vibrava. Essa multidão o fazia ainda mais mágico e bonito.

É certo que fizemos parte da história deste lugar. Porém, é mais certo ainda que ele fez parte de nossas histórias.

Fez parte da história de todos que acompanharam a Copa de 1950, brasileiros ou não; do torcedor fanático do Flamengo que viu Zico balançar as redes centenas de vezes; do trabalhador que todos os dias pega o metrô e o observa pelo vidro, entre a estação que leva seu nome e São Cristóvão; daquele que não gosta de futebol, mas que já foi lá para fazer a prova do Colégio Militar.

Meu Maracanã, de tantas tardes, de tantas noites, de chuva, frio e calor: eu nunca vou te esquecer.

Descanse em paz.